Para compreender o sistema atual aplicado na área da educação, foi realizada uma entrevista com professoras que compartilham um pouco de seus pensamentos e experiências.
Há diversos relatos de dificuldades que o professor enfrenta em sala de
aula principalmente no que diz respeito à indisciplina.
Você acha que existe uma fórmula para adequar os alunos em situações de
desrespeito na sala?
Professora que atua há mais de 20 anos na área da educação
Muita coisa mudou, a indisciplina aumentou muito por conta
da desestruturação familiar, pois, se o aluno é indisciplinado em casa isso
reflete dentro da escola.
Na escola o aluno está num ambiente em que se o professor
souber trabalhar direitinho a questão da diversidade, através das aulas e do
contato com pessoas diferentes do que está acostumado, com religiões diferentes
da sua, o aluno já se prepara para a vida social.
Se professor souber trabalhar tudo isso, o aluno não só vai
respeitar os colegas, mas, também vai saber o seu papel e tudo vai fluir
naturalmente inclusive a disciplina, o respeito pelo professor. O aluno vai
respeitar e reconhecer o espaço do outro.
Eu tive uma briga tão feia com um aluno meu em sala de aula,
pois eu estava querendo passar o conteúdo e ele não ficava quieto, era uma
sexta-feira, e ele não parava de brincar, eu já estava nervosa e nós discutimos,
mas, eu gostava dele pra “caramba” e ele de mim, aí a gente discutiu, ele era
mais velho que os outros alunos da sala e nós fomos embora magoados um com o
outro. Eu passei o final de semana inteiro preocupada, nem dormi direito. Na
segunda feira eu entrei na sala e falei com ele, o nome dele era Joel: Joel,
você me desculpa eu fui muito rude com você, e ele me disse: Eu só te desculpo
professora, se você me desculpar também.
Então, o professor tem que saber que ele erra também e saber
assumir que errou, o aluno pode saber que o professor tem falhas também, qual o
problema? Eu errei, assumi e ganhei ainda mais o respeito de toda a sala, que
havia presenciado a briga.
Isso gera uma confiança, o nosso maior erro é achar que nós
vamos plantar as nossas sementinhas e nós mesmos vamos colher! Quem vai colher
esses frutos dificilmente será o professor e quando eu comecei eu brigava muito
e discutia desnecessariamente, batia na mesma tecla minuto a minuto mas, hoje
eu só planto as sementes.
Professora recente na área da educação
Penso que estamos atravessando uma nova era, a era da Tecnologia de ponta, aonde lampejos de informações chegam em fração de segundos ao alcance de nossas crianças, infelizmente são apenas lampejos como mencionei e nosso papel é transmitir as informações de forma coesa e completa. Logo, sofremos por estar diante dos olhos das crianças, um tanto defasados sobre as tecnologias, isso gera descontentamento e certa monotonia em sala de aula; neste momento as crianças põem em teste todo o saber e criatividade do professor, sendo indisciplinados, displicentes e até agressivos. Hoje com a mulher inserida no mercado de trabalho, a tarefa de educar os filhos ficou para os professores, e a autoridade deste docente é sempre questionada, por não haver laços consangüíneos. Nossa tarefa de formar cidadãos fica confusa para a criança, para os pais e até para nós docentes.
De acordo com a LDB Lei
10.639/2003 o ensino da História e Cultura Afro torna-se obrigatórios. A lei
existe há 10 anos, porém, nota-se que há uma dificuldade para apresentar e
trabalhar esse tema em sala de aula. A diversidade de etnia, religião e
culturas em sala de aula é muito ampla e devemos preparar o aluno para lidar e
respeitar essa multiculturalidade dentro e fora da escola. Você considera que
está apto a preparar seus alunos para essa diversidade?
Professora que atua há mais de 20 anos na área da educação
Na minha formação acadêmica,
ainda não fui preparada, porém, o governo ofereceu durante esses 27 anos alguns
cursos para atualização na área para que nos conseguíssemos trabalhar com
alunos sobre o assunto, embora esses cursos em sua maioria não foram
obrigatórios.
Se o professor quiser vai correr
atrás e vai se preparar, pois, muitas vezes esses cursos são oferecidos fora do
nosso horário de trabalho, mas, nem todos estão disponíveis para deixar suas
obrigações e família para realizar uma atualização.
Sempre fiz cursos e isso em longo
prazo me trouxe além da ampliação dos conhecimentos um retorno financeiro, pois,
o estado tem apesar de defasado um plano de carreira.
O assunto não é fácil de
introduzir em sala de aula, mas,não é impossível.
A questão da religiosidade, por
exemplo, para apresentar e trabalhar o conteúdo em sala de aula nos deparamos
com algumas dificuldades, a própria diversidade de religião cria um paradigma,
uma certa barreira, os pais se opõe e os alunos não demonstram interesse algum.
O ensino religioso, por exemplo,
não é uma disciplina obrigatória, é uma disciplina que apresentava filosofias
de vida para que o aluno lá na frente pudesse se relacionar bem com as pessoas
e na sociedade, não era voltada para a religião católica por exemplo mas,
alguns pais não permitiam que seus filhos tivessem contato com essa aula,
imaginando que isso pudesse de alguma forma influenciar a religião de batismo.
Professora recente na área da educação
Sim, apesar de ser um grande desafio e de termos poucos recursos disponíveis, bem como pouco embasamento teórico, fiz alguns cursos de extensão em Historia Africana e Afrobrasileira, o que me permite ter mais preparo, segurança e uma didática mais lúdica para as questões etnicorraciais. Faço parte de um coletivo de mulheres negras, o que me levou a ter maior conhecimento sobre nossa verdadeira historia, nossos heróis, princesas e a vida deste povo que ajudou a construir nosso país.
Umas das professoras além de trabalhar em escola pública, também atua em projetos sociais, e para finalizar expõe a sua visão em relação a diferença desses dois ambientes e como influenciam na vida do aluno.
Sobre sua experiência em
Projeto social, você vê diferença de comportamento do aluno entre a escola (onde
circula informações em diversas disciplinas) e a Instituição social em que atua (cercada por arte e cultura)? Se sim, quais?
Professora recente na área da educação
Atuo há mais de dez anos em instituições culturais, onde temos a
certeza que o melhor aproveitamento em sala de aula se dá por parte de crianças
inseridas em tais projetos, pois nestes espaços alternativos de ensino, eixos
como cidadania, diversidade e etnia são relembrados e tratados às claras,
sabendo que se nos preocuparmos em formar cidadãos críticos e conscientes, um
mundo melhor estamos construindo.
Dentro de uma formação artística cultural podemos abordar temas
muito mais instigantes a curiosidade de nossas crianças, facilitando a vida do
professor de escola convencional.